quarta-feira, 17 de julho de 2013

Ao Amigo e Humanista Luís Maçarico


As palavras cintilam                                                                                    
“Diante da música                                         
Do mar de Jerba                                             
Quais pérolas perdidas,                                                             
Frescas como o peixe                                  
Que vem na rede,                                         
As palavras cintilam                                                                                     
Na tarde de mar.”
Luís Maçarico, Jerba,                                                                                   
 14-10-2002

Estrelas de Verão
“Às vezes sinto o odor
E o veludo das mãos
A voz adormecida
As palavras húmidas os olhos
Onde dormitavam estrelas
De verão

Às vezes desejo essas carícias

Perdidas na poeira do tempo
Levadas talvez pelo vento
Para que mar
Ou deserto?”
Luís Maçarico, 05-2002

Porque as homenagens sentidas devem ocorrer em vida.
Foi no Sábado, dia 01 de Outubro de 2008, que o conheci, aquando da apresentação do Mestrado em Portugal Islâmico e o Mediterrâneo, em Mértola, no Campo Arqueológico. Quando o vi, pensei que iria ser um dos professores do Mestrado ou um dos oradores convidados. Logo nesse dia vislumbrei o grande ser humano que ali estava.
Logo no início do Mestrado, o Luís e eu efectuamos um primeiro trabalho apresentado em conjunto, através de uma análise de um artigo da arqueóloga Isabel Luzia. Demos o nosso melhor (apesar da distância que nos separava durante a preparação da dita, sempre navegando pelo mar da net, entre Lisboa e Beja), e julgo que estivemos bem, sim. Conforme, meu amigo bem o disse no seu blog “Águas do Sul”: «aprendemos um com o outro e ficamos bem na fotografia, pois toda a gente nos felicitou pela informação apresentada.»
Atraiu-me a atenção a patrimónios não raras vezes imperceptíveis: aldrabas, contrabando, mão de Fátima, só para citar alguns exemplos.
Escrevemos estas linhas, pois acreditamos firmemente naquelas palavras escutadas a um ancião em 2006, nas proximidades da Serra da Estrela: “Grande Homem, rapaz? Grande Homem é aquele que nos dá uma oportunidade!” As palavras não terão sido exactamente estas, mas o seu significado sim.
Esta singela homenagem da nossa parte, ocorre por múltiplos e variados motivos, que passamos a resumir:
  • 1.        O Luís foi a primeira pessoa, que sinceramente, achou que uma série de lendas e demais elementos patrimoniais que eu havia recolhido por estes espaços mais a Sul deveriam ser dadas à estampa;
  • 2.       É um verdadeiro amigo, na plenitude da palavra, amizade que iniciou o seu cultivo e caminhada em Outubro de 2008, durante a frequência do Mestrado em Portugal Islâmico e o Mediterrâneo;
  • 3.       É um Humanista Universal (poeta, antropólogo, associativista, escritor),e a sua obra retrata o melhor património de todos: as pessoas, seus sentimentos e complexidades.

Mas sem mais delongas, aqui deixamos o seu registo biográfico, mas há muito mais Luís para conhecer para além da sua escrita e recomendamos assim o seu trato e amizade. É algo que vale muito a pena almejar e conservar, pois é puro, verdadeiro, como tudo o mais na vida deveria de ser.

Natural de Évora, onde nasceu a 29 de Outubro de 1952.
Licenciado em 1994 pela Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Antropologia, com: “Barbeiros de Alcântara – A Identidade Masculina e Bairrista entre Estratégias de Sobrevivência e Ameaças de Extinção.”
Completou em 2005, o Mestrado em Antropologia (Património e Identidades), no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, com a tese subordinada ao tema: “Os processos de construção de um herói do imaginário popular – o Caso de Santa Camarão.”
Em 2012, completou o seu segundo Mestrado em Portugal Islâmico e o Mediterrâneo, com o seguinte tema de tese: “A Mão que Protege e a Mão que Chama: Orientalismo e Efabulação em Torno de um Objecto Simbólico do Mediterrâneo.”
Trabalha no Município de Lisboa. Nos tempos livres é associativista, tendo sido fundador de várias associações desde 1982 e dirigente de colectividades.

Alguns livros publicados:
2010 – Associativismo, Património e Cidadania, Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto / Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes” / Aldraba Associação do Espaço e Património Popular;
2009 – Aldrabas e Batentes de Porta: uma reflexão sobre o Património Imperceptível, Aldraba Associação do Espaço e Património Popular;
         - Jóias Imperceptíveis em Portas de Lisboa Aldrabas, Batentes e Puxadores nas Casas de Catorze Personalidades da Cultura Portuguesa, Apenas Livros
2005 – Memórias do Contrabando em Santana de Cambas um contributo para o seu estudo, Junta de Freguesia de Santana de Cambas

Escritor de inúmeros artigos, dos quais destacamos os seguintes:
2012 – A Importância dos Objectos para a leitura do passado, Arqueologia Medieval, n.º 12, Campo Arqueológico de Mértola, Afrontamento;
2007 – Os Heterónimos de um Mistério: Azóias, Cubas e Morábitos no Imaginário Popular. O caso de Montemor-o-Novo, Almansor, n.º 6, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo;
2006 – Os Morábitos na Arquitectura Religiosa do Sul, Callípole, Câmara Municipal de Vila Viçosa;
2005 – Aldrabas e Batentes de Montemor-o-Novo: Um Olhar Antropológico, Almansor, n.º 4, 2ª série, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo

Publicou 19 livros de poesia:
2013 – Ilha de Jasmim, Edição do Autor;
2012 – Geografia dos Afectos, Edição Apenas Livros;
          - Transumância das Pequenas Coisas, com o apoio da Câmara Municipal de Castro Verde;
2008 – Cadernos de Areia, Lisboa;
2006 – Ar Serrano, Edição Câmara Municipal do Fundão;
2004 – Caligrafia do Silêncio, Lisboa;
2001 – A Secreta Colina, Edição Câmara Municipal de Lisboa;
2000 – Lisboa, Pegadas de Luz, Edição Câmara Municipal de Lisboa;
1999 – A Celebração da Terra, Edição das Câmaras Municipais de Évora e Montemor-o-Novo, Junta de Freguesia de Nossa Senhora Da Vila e Delegação Regional de Cultura do Alentejo;
1998 – Os Peregrinos do Luar, Lisboa;
         - Lisboa, Cais das Palavras, Edição Câmara Municipal de Lisboa;
1997 – O Sabor da Cal, Edição da Câmara Municipal de Beja
         - Vagabundo da Luz, Edição Liga dos Amigos e Junta de Freguesia de Alpedrinha
1996 – Intim(a)Idade, Lisboa;
1995 – Os Pastores do Sol, Edição do Autor, versão trilingue (português, francês e árabe);
1994 – Lisboa, Asas de Água, Edição Câmara Municipal de Lisboa;
1993 – A Essência, Lisboa;
1992 – Mais Perto da Terra, Lisboa;
1991 – Da Água e do vento, Átrio.

Milhares de versos publicados, na comunicação social portuguesa e estrangeira. Através da sua veia poética, despertou-nos a nossa poesia (que carece ainda de muita mestria e dialéctica mais – e por certo carecerá para todo o sempre), que se encontrava adormecida devido aos trilhos por vezes esquecidos e outrora trilhados com muito mais ardor.
Diversos títulos publicados nas áreas dos contos e literatura infantil, estando representado em múltiplas antologias.

Nunca me esqueci também, de uma frase que escutei um belo dia durante as minhas deambulações/prospecções pelas serranias nortenhas e que era a seguinte:

“Há pessoas na vida,
Que passam e levam um pouco dos outros
Outras, passam e deixam um pouco de si.”

Bem haja amigo Luís por partilhares um pouco de ti comigo/connosco, do fundo do coração.

Texto: Marco Valente


Bibliografia consultada:
MAÇARICO, Luís (2013): Ilha de Jasmim
-------------------- (2012): Transumância das Pequena Coisas, apoio Câmara Municipal de Castro Verde;
-------------------- (2010): Associativismo, Património e Cidadania, Edição do Autor;
-------------------- (2008): Cadernos de Areia, Edição de Autor