segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Arte Rupestre (V) Capelas (I) Arqueologia (III) Reptilianos (I)

"Lenda da Passadinha"
Informante: José Sardinha

Um cavaleiro que um dia ia a passar por um ribeiro foi atacado por uma grande cobra[1].
Pediu ajuda a Nossa Senhora e ela apareceu-lhe com o menino ao colo e a cobra com medo fugiu[2].
O cavaleiro em agradecimento quis construir uma capela[3].
Quando começaram a construir num local baixo, no dia seguinte encontrava-se tudo derrubado no chão[4].
Então tiveram de construir a dita capela num sítio mais elevado.
Nesse ribeiro há um afloramento rochoso, com uma espécie de sela (que teria sido do cavaleiro, local onde os miúdos antigamente iam brincar), com a gravura de um pé (eventual podomorfo, que seria pela tradição do Menino Jesus) e de uma ferradura (que seria igualmente pela tradição, do cavalo que o cavaleiro montava)[5].
Chegaram a ocorrer disputas, há algumas décadas atrás, pela posse “espiritual” desta Capela, entre as gentes de Selmes (Vidigueira) e as gentes de Baleizão (Beja).




[1] Os cultos ofiolátricos são, em épocas celtas por exemplo, símbolos de uma ligação existente entre todos os seres vivos. Júlio César descreve, para os celtas da Gália, que o tema central da sua religião era a metempsicose (a possibilidade da alma humana reencarnar em outros seres animais e vegetais). Em Dorset, no Reino Unido, arqueólogos descobriram enterramentos de numerosos animais híbridos. Milles Russel (co-director da escavação), teria declarado a imprensa que as combinações de diferentes partes de animais teriam sido localizados em fossos com 2 a 3 metros de profundidade utilizados para guardar mantimentos e outros tipos de mantimentos debaixo das entradas das casas. Uma disposição particularmente estranha de ossos de animais, também envolveu um esqueleto humano. Uma jovem mulher parece ter sido vítima de sacrifício (com a indicação de que a sua garganta provavelmente teria sido cortada) e foi então enterrada numa “cama” especialmente executada com ossos de ovelhas, cães e cavalos. Significativamente, essas ossadas de animais tinham sido deliberadamente escolhidas para espelhar os ossos da mulher morta. Também poderia indicar que os antigos britânicos possuíam crenças ou mitos relacionados com animais híbridos, da mesma forma que os gregos. A maioria das civilizações ancestrais têm animais híbridos nas suas respectivas mitologias. E, ainda que os celtas não tenham deixado nenhuma evidência escrita acerca disso, as experiências híbridas com ossos de cavalos e vacas poderiam sugerir a existência de uma divindade celta com essas características.
Já o antropólogo Julio Cola Alberich (Cultos primitivos de Marruecos, Madrid, Instituto de Estudios Africanos del CSIC, 1954, p. 50) afirmava o seguinte, relativamente aos cultos ofiolátricos no Norte de África: “Para establecer su génesis, se hace preciso reconocer el estado de espiritu del primitivo ante una especie animal tan extraña en sus particularidades como el ofídio. A su vista, experimenta una concreta sensación de pavor y repulsión, una sensacion fuera de lo normal, que le conduce a la admiración.” Este ombre primitivo relaciona la serpiente com una serie de hechos a los que le conduce su observación directa de la Naturaleza: «a consecuencia de ello, há llegado a adquirir un conocimiento, primeramente muy oscuro, de algunos fenomenos relacionados com la vida del reptil – como su muda periódica, que le puede sugerir la idea de renovacion periódica y perpetua de la vida(…) La analogia, que para Preuss es casi la única fuente de la magia, halla aqui una evidente intervención. En ella puede buscarse las raíces de la primitiva ofiolatria».
[2] A hostilidade entre a Mulher e a Serpente já surge em textos bíblicos, nomeadamente do Antigo Testamento. Em Génesis 3,15: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás no calcanhar.” Trata-se de um diálogo entre Deus e a serpente, depois do pecado de Adão e Eva no Paraíso. É a mulher que persegue e esmaga a cabeça da serpente. Exegeticamente, esse versículo parte da constatação que existe uma profunda hostilidade entre a humanidade e a serpente. É fundamental, notar a presença de uma vitória final da Humanidade. No texto hebraico essa vitória virá através da linhagem da mulher. Dessa forma é estimulada a interpretação messiânica já presente na tradição judaica antiga e, depois, nos padres da Igreja. E, juntamente com o Messias, também a sua mãe é assim implicada, nascendo a interpretação mariânica: Maria que esmaga a cabeça da serpente.
[3] O facto de alguém cristianizado querer construir uma capela/igreja/mosteiro após uma vitória é um tema muito comum na imagética cristã (p.ex. Mosteiro da Batalha).
[4] Este tema também é muito comum, só para citar dois da imensidão de exemplos existentes, isto só relativamente ao caso português: Em Mirandela, numa localidade apelidada de Romeu, na Horta de Nossa Senhora, no Lugar de Vale de Couço, dizia-se que tinha sido ali que teria aparecido a imagem de Nossa Senhora de Jerusalém de Romeu, onde lhe erigiram uma Capela. Mas Ela, de noite, fugiu para o local da aparição, até que, por último, tantas vezes a levaram que lá se resignou a ficar na Capela [esta situação não costuma ser usual, geralmente Nossa Senhora, ou Santa/Santo costumam fazer prevalecer a sua vontade]. Igualmente em Santa Bárbara, Vale de Prados de Ledra, apareceu a Senhora, que o povo levou para as Múrias. Mas de noite fugia para as ruínas, até que, tantas vezes a levaram que, por último, lá ficou. [Através destas alegorias as populações encontravam muitas das vezes explicações, no seu entendimento, para a existência de ruínas antigas próximas das suas então actuais localidades].
[5] A arte rupestre, geralmente surgida em locais de culto, calendários agrícolas, etc encontra assim este tipo de explicação na mente das pessoas das localidades mais próximas, pois é a explicação mais plausível aos seus olhos e experiência de vida, também ao nível da religiosidade, que professem na altura.

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