sexta-feira, 2 de março de 2018

Fantasmas, vultos e sombras (VII)

O Fantasma que pede boleia


O Fantasma que pede boleia é uma história com elos comuns a várias latitudes geográficas e com raízes antiquíssimas[1].
Em Moçambique, também observamos a mesmíssima lenda urbana.
Consiste no seguinte, esta versão por nós escutada a Margarida de Fátima e registada a 01 de Março de 2018:

Margarida de Fátima Dina Shevo Brança, 31 anos, Moçambique


Era uma vez um senhor, aquilo de passear nas discotecas, sei lá o quê, e conheceu uma moça.
Conheceu, passearam, conviveram juntos, levou de boleia para em casa deixar. Deixou-a, emprestou o casaco e disse: “Qualquer dia que eu venho buscar o casaco!” Ela estava com frio.
Tirou o casaco dele, deu. Deixou-a em casa, à porta de casa mesmo deixou e o senhor foi-se embora de mota. Quando chegou, resolveu ao outro dia, vou buscar o quê? O meu casaco com aquela moça. Quando chegou, chegou a casa daquela moça, bateu à porta, pediu com licença e perguntou o nome daquela moça.
Disseram: “Essa moça morreu há muito tempo!” “Nós estávamos cá com ela!”
Disse: “Não! Eu há uns dias atrás estava com ela na discoteca, e eu emprestei o meu casaco a ela, porque estava com frio!”
Disse: “Não ela morreu há muito tempo!”
Disse: “Não também, por acaso eu emprestei o meu casaco e está com ela!!!”
Disse: “Para você confirmar, vamos ao túmulo dela!”
E foram ao túmulo dela e encontraram o casaco pendurado na cruz.
É quando ele ficou assustado.
A ideia é: “Não dou mais boleia a ninguém!”

Em Barcelos, foi recolhida nos anos 90 do século XX uma história similar[2] (esta versão escutei-a eu mesmo pessoalmente, no ano de 1995, mas com pormenores similares à versão de Moçambique e Brasileira).
No Brasil, a versão de Alagoas já é contada desde há mais de 100 anos.

Réplica da Capa Preta, da versão brasileira
 (adicionada posteriormente ao túmulo) - foto de Carolina Sanches


É como segue:
Conta a lenda que no início do século XX um homem conheceu em um baile uma bela moça por quem se interessou. A partir daí, os dois ficaram juntos durante toda a festa.
"A moça era linda. Quando deu meia-noite ela quis ir embora e falou para o rapaz. Estava chovendo e ele falou que a levaria em casa. O jovem então pegou a capa que trazia e a cobriu. Eles saíram e ela pediu que ele parasse na porta do cemitério, onde ela ficou. Mas antes disse o endereço", contou Antônio Fidelis dos Santos, 77, que faz serviços de limpeza no cemitério há 35 anos e mora no bairro desde que nasceu.
De acordo com a narrativa, o homem foi até a casa da moça. Lá, a família informou que não existia ninguém com o nome informado morando no local, mas que era como se chamava a filha que já havia morrido. Ele se recusou a acreditar no que ouviu e começou a achar que estava sendo vítima de uma peça. Depois de muita conversa, eles foram ao cemitério para que a família mostrasse o túmulo da jovem. Ao chegar no local, ele viu o túmulo e a capa que lhe pertencia em cima da cruz.[3]



[1] Numa história da Roma Antiga, conta-se que um certo Proculus, ao viajar numa estrada de Alba Longa em direcção a Roma (todos os caminhos vão dar a Roma), depois dos Romanos terem descoberto que o corpo de Romulus (lendário fundador de Roma) tinha desaparecido, este, encontra-o no caminho. Romulus explica-lhe então os segredos do Reino (como conquistar e governar o Mundo). Romulus ascende então ao Céu e Proculus, reconhecendo quem ele era, segue para proclamar o que lhe foi dito – Proculus significa O Proclamador. CARRIER, Richard (2014): On the Historicity of Jesus, Sheffield Phoenix Press.
[2] In http://www.lendarium.org/narrative/a-paixao-misteriosa-outra-versao/?category=96 [consultada a 02.03.2018]. Existem no entanto um total de 25 versões recolhidas em Portugal, maioritariamente da zona algarvia.
[3] In http://g1.globo.com/al/alagoas/noticia/2013/11/lenda-da-mulher-da-capa-preta-faz-parte-da-historia-de-cemiterio-em-al.html [consultada a 02.03.2018]. Existe até um Bloco Carnavalesco inspirado por esta mesma Lenda, onde se homenageia a protagonista da Lenda em si.

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