terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Lendas e Mitos Rurais e Urbanos de Moçambique (um Mundo em extinção?) Rural and Urban Legends and Myths in Mozambique (an endangered world?)


Lendas e Mitos Rurais e Urbanos de Moçambique (um Mundo em extinção?)
Rural and Urban Legends and Myths in Mozambique (an endangered world?)

Apresentamos um pequeno excerto de uma das lendas abordadas no seguinte artigo disponível em linha (we present a small record of one of the legends approached on the following article available online): http://www.cta.ipt.pt/index.php?actual=2&total=13&pagina=unidade_editorial&seccao=o_ideario_patrimonial&lang=PT&idrevista=214#media
Resumo
Este artigo pretende apresentar uma série de recolhas inéditas, efectuadas entre Janeiro de 2018 e Novembro de 2019 – trabalho que se encontra a ser efectuado em contínuo presentemente.
Tenta proporcionar o registo actual de uma série de episódios e figuras lendárias, que ocupam o imaginário dos diversos Povos e Etnias Moçambicanos. Acreditámos que era necessário registar quais os episódios, figuras míticas, locais sagrados, que ainda nos nossos dias se encontram presentes no imaginário comum.
Verificamos que nas áreas rurais, o Animismo está profundamente enraizado, complementando as áreas urbanas, onde o desenvolvimento modificou hábitos, mas manteve uma série de mitos urbanos, igualmente com raízes ancestrais.
O estudo mais apurado de todas estas recolhas urge ser feito, mas, contudo, também era pertinente
esta recolha, pois muitos dos que guardam ainda estas memórias do passado desaparecem, levando para o além-túmulo todas estas figuras e episódios. As novas gerações, fascinadas pelo desenvolvimento tecnológico recente abstraem-se de todos estes mundos tradicionais, figuras e mitos passados, de um modo geral. Estaremos a assistir à morte de deuses e mitos? Ou à sua mera
transfiguração decorrente do passar dos tempos?

Palavras-chave: Mitos, Lendas, Moçambique, Mundo Rural / Mundo Urbano

Abstract
This article aims to present a series of unpublished stories, recollections carried out between January 2018 and November 2019 - work that is currently continuously ongoing.
It seeks to provide the current record of a series of legendary episodes and figures that occupy the
imaginary of the various Mozambican Peoples and Ethnics. We believe it was necessary to record
which episodes, sacred places, mythical figures, were still rooted in the common imaginary today. We found that in rural areas, Animism is deeply rooted, complementing urban areas, where development has changed habits, but has retained a series of urban myths, also with ancestral roots. The most accurate study of all these collections needs to be accomplished, but this collection was also urgent, because many of those who still keep these memories of the past die, taking all these figures and episodes to the grave. New generations, fascinated by recent technological development, abstract from all of these traditional worlds, figures and past myths in general. Are we watching the death of gods and myths? Or its mere transfiguration due to the passing of time?
Keywords: Myths, Legends, Mozambique, Rural World / Urban World


1.7.2. A Raça dos Gigantes Antepassados Ancestrais
(The Race of the Ancestral Fathers, the Giants)

No Norte de Moçambique – à semelhança do sucedido com as gravuras rupestres de Nhanhibui, existirão alguns podomorfos [marcas de pés humanos] gravados em rochas em praias ou mesmo num rochedo no meio do mar, visível apenas durante a maré baixa. Estes são explicadas pelos povos locais, como prova da passagem da raça de Gigantes Ancestrais que se encontram descritos nos textos do Corão. E que estes mesmos locais consideram como seus antepassados directos.

(In northern Mozambique - as with the Nhanhibui rock carvings, there will be some podomorphs [human footprints] engraved on rocks on beaches or even on a rock in the middle of the sea, visible only during low tide. These are explained by the local people as evidence of the passage of the race of Ancestral Giants which are described in the texts of the Koran. And what these same local inhabitants consider as their direct ancestors.)



Figura 9. Gigante Ancestral. Fonte: desenho de Marco Valente
(Ancestral Giant. Source: drawing from Marco Valente)

“Na ilha de Muamize, existem as marcas de pés gravados na rocha, de um homem alto, grande, enorme. Existe um povoado antigo onde já ninguém vive – tem pessoas que lá se dirigem uma vez por ano, apenas Homens.
Alguns vão rezar e outros apenas para visitar. Mostrar que existiam antepassados daquele tamanho.
O pé estará gravado numa rocha junto à praia. O Líder e o Secretário de Senga vão lá no Dia dos Heróis Moçambicanos, efectuar algumas rezas / cerimónias / pedidos (3 de Fevereiro).
Na ilha de Kilamibi, existe a gravura de um pé grande e as cavernas nas rochas, onde as pessoas viviam. Estão trancadas com ferros e ninguém lá pode ir. Diziam que as pessoas eram muito altas, esses antepassados.
Em Mbuizi, a cerca de 37km da Vila de Palma, existe igualmente um pé gravado numa rocha.
Ao lado desta rocha está um arbusto que nunca murcha. As pessoas costumavam por curiosidade ir visitar e fazer pedidos.
Por último, em Palma Sede, existe um rochedo no meio do mar, igualmente com um pé gravado.
Esse pé gravado seria uma marca dos antepassados que seriam altos. Apenas é acessível durante a maré baixa. Existem uns baixos perto desse rochedo, onde estarão depositadas 3 arcas com tesouros. Os chineses terão tentado lá ir, mas nem eles teriam conseguido recuperar esses tesouros.”[16]

“On the island of Muamize, there are footprints engraved in the rock of a tall, large, huge man. There is an old village where no one lives anymore - there are people who go there once a year, only Men.
Some will pray and others just to visit. Showing that there were ancestors of that size.
The foot will be engraved on a rock by the beach. The Leader and Secretary of Senga are going there on Mozambican Heroes Day to perform some prayers / ceremonies / requests (February 3rd).
On Kilamibi Island there is the engraving of a large foot and the caves in the rocks where people lived. They are locked with irons and no one can go there. People were said to be very tall, these ancestors.
In Mbuizi, about 37km from the village of Palma, there is also a foot engraved in a rock.
Beside this rock, there is a shrub that never withers. People used to out of curiosity go visit and place requests.
Finally, in Palma Sede, there is a rock in the middle of the sea, also with an engraved foot.
This engraved foot would be a mark of the tall ancestors. It is only accessible during low tide. There are some lows near this rock where three treasure chests will be deposited. The Chinese would have tried to go there, but neither could they have recovered these treasures.”


[16]Informante: Costa Carlos Gomes, 25 anos, nascido em Mueda, habitante de Senga, Província de Cabo Delgado. Testemunho recolhido a 31 de Julho de 2019. Informant: Costa Carlos Gomes, 25 years old, born in Mueda, living in Senga, Cabo Delgado Province. Testimony collected on July 31st 2019.

Sem comentários: