Colegas muitos há que foram
coligindo compêndios vários acerca de tal temática no decorrer dos séculos.
Recolhendo testemunhos orais contemporâneos[1]
deste e daquele recanto buscamos também contribuir para uma visão mais
abrangente acerca deste “outro” ao qual tanto nos liga.
Descortinando imagens
efabulatórias procuramos assim vislumbrar em que lugares do País se podem
encontrar mais auríferas recompensas ou mais baús plenos de pestilentas pragas.
Onde é que o mouro/moura é bom ou o mau da fita? Que género de tesouros são os
mais representados, prata e ouro ou prodígios da técnica? Uma miríade de
questões que se vão colocando desde há tempos imemoriais, desde que a lenda é
dita à luz das fogueiras, desde que o conto é contado, desde que o Mito nada
mais é porventura do que humanizada figura.
E, vislumbrando-nos reflectidos
no espelho veríamos assim, porventura, a imagem do moiro ou moira que por ora
buscávamos, pois não somos (mesmo em termos genéticos), aquele moiro ou moira
que se quer ver desencantado e compreendido?
Mas adiante.
O Sr. João Lopes, pessoa dos seus
44 anos, natural e morador na Granja (Mourão), tem para contar uma estória que
escutou há 32 anos atrás, quando era adolescente na casa dos seus 12 anos.
Junto ao Lorico, onde havia uma curva,
melhor dizendo, um meandro do rio Alcarrache[2],
diziam os mais antigos/idosos que existia um tesouro nesse local. Chegavam a ir
indivíduos munidos de pás e picaretas escavar em busca desse mítico tesouro,
derrubando árvores e tudo o mais no afã de encontrar tal riqueza. Nunca o
chegaram a fazer (que se saiba).
Talvez porque não tenham seguido
os seguintes lendários preceitos.
(Sr. João Lopes, à direita do observador)
Dizia-se que havia uma serpente
encantada, guardiã desse imenso tesouro. Quem o quisesse obter deveria deixar a
dita serpente enrolar-se em seu redor, dando três voltas completas à cintura e
dar-lhe (a serpente) um beijo no céu da boca. Após tais preceitos deveria ser
morta a serpente, por forma a se poder reclamar posse do tesouro.
Dragões, serpentes, sardões são
animais reptileanos ligados às figuras das moiras encantadas.
Reminiscências de cultos ofiolátricos
de cariz celta ou sacralização cristã de espaços pagãos, ligando assim estas
figuras por vezes associadas também a Lucifer, ao mal. Estas são apenas algumas
escassas tentativas de explicação para alguns dos casos onde tal possa ser
observado.
Vamos dando à navegação estas
estórias, para que outros possam também delas extrair e construir conhecimento,
em salutar comunhão de esforços. Investigadores, estudantes, leigos e meros
curiosos. Porque o conhecimento é direito de todos e não tão somente apanágio e
desfile de vaidades de alguns poucos.
Texto e foto: Marco Valente
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