O Cruzeiro do Alto do Mú (Serra do Caldeirão)
Por todo o país existem fenómenos
demonstrativos da religiosidade popular. Um desses fenómenos é o das “Alminhas”,
maravilha única[1] que
encontramos espalhada no nosso território, de Norte a Sul.
Paralelamente surgem os
Cruzeiros. Para além ao seu significado intrínseco (de representação do Cristo
crucificado), a sua iconografia varia de local para local, sendo o contexto no
qual está implantado, de extrema importância para a sua interpretação.
No Norte, ao Domingo, terminadas
as Vindimas, era hábito cantar, dançar, deitar-se as “Vivas” e reinar, junto ao
Cruzeiro da Igreja (qual representação totémica da Morte de um Deus, para redenção
e celebração da Vida pelos seus seguidores).
Alguns adquiriram o estatuto de
Monumento Nacional (como é o caso do Cruzeiro de Tibães, desde 1910). Também
podem assumir o estatuto de marcas divisórias territoriais, como é disso
exemplo o Cruzeiro do Padrão da Légua, marcação no terreno da separação entre a
Via Veteris e a Karraria Antiqua. Em Pombal, mais precisamente no Louriçal, o
Cruzeiro / Pelourinho, dos séculos XVI / XVII assume também essa identidade, de
vetusto pelourinho, em alusão simbólica à antiga autoridade municipal.
Os Passos da Via Sacra, dos quais
são exemplo os da localidade de Selmes, representam simbolicamente essa
manifestação de religiosidade, vivida com mais intensidade no Domingo de Ramos
(data da entrada triunfal do Cristo em Jerusálem).
O Cruzeiro do Alto do
Mú (Serra do Caldeirão)
Neste caso específico, observado
em 2007, estamos na presença de uma Cruz de Calvário, executada numa rocha
carbonatada. Aos pés na Cruz, no interior da representação do Golgota, surge a
data de 1916. Não se encontra muito distante de uma encruzilhada (Alto do Mú –
Felizes – Malhão). Marcará o local onde alguém terá falecido (é uma
interpretação).
Em Marmorais (Abadim, Cabeceiras de Basto) também encontramos
algo de funcionalidade similar, sendo neste caso mais recente e
móvel. Marco provável do local de falecimento de FMG (os registos paroquiais do local por certo ajudarão a saber de quem se trataria).
Croqui da laje móvel. Cortesia da Dra. Marta A. Duarte |
De qualquer das formas, aqui fica
o registo de ambos, para quem se dedique a estudos mais aprofundados no que a
estas temáticas diga respeito.
Poderia ser incluído este
Cruzeiro (marca de religiosidade e crença num Deus que protege e salvará as
Almas deste Mundo) num qualquer caminho pedestre (a exemplo do BCL-PR1 – Pelos Caminhos
do Monte da Saia, que percorre os caminhos rurais entre o Lugar da Póvoa e Remelhe,
em Barcelos).
Bibliografia:
·
AGRIPRO, Ambiente Consultores SA (2006): Estudo
de Incidências Ambientais do Parque Eólico da Serra do Mú, Lisboa;
·
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Ias Jornadas – As Vias do Algarve, CMSBA/CCDR Algarve;
·
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FERREIRA, Fernando (2007): Parque Eólico da
Serra de Mú Estudo Geológico-Geotécnico, Geoárea Consultores de Geotecnia e
Ambiente;
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Ed. Martins Fontes, São Paulo;
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Gattegno, David (2000): simbolos, Col. ba-ba, Ed. Hugin;
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Almodovarense);
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Levantamento da Carta Arqueológica de Almodôvar. Relatório de Estágio
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LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho
(1873-1890): Portugal Antigo e Moderno: Dicionário Geográphico, Estatístico,
Chorográphico, Heráldico, Archeológico, Histórico, Biográphico &
Etymológico de Todas as Cidades, Villas e Freguesias de Portugal e Grande
Número de Aldeias, Livraria Editora de Mattos Moreira, 10 vols., Lisboa;
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Ed. Cultrix, São Paulo;
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Littleton, C. Scott (Editor Geral) (2002): Mitologia, The Illustrated Anthology of World Mith e Contar Histórias, Duncan Baird Publishers, Londres;
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·
OLIVEIRA, Catarina: Paisagens e Patrimónios.
Novos Caminhos para os Territórios Rurais. A Experiência de uma Associação de
Desenvolvimento Local no Alentejo, In IIº CER. Sub-Tema 4: Usos e olhares: dos
recursos ao património;
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TEIXEIRA, C.; GONÇALVES, F. (1980): Introdução à
Geologia de Portugal, INIC, Lisboa;
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VALENTE, Marco Paulo (2008): Parque Eólico da
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VASCONCELLOS, José Leite de (1989): Religiões da
Lusitânia, 3 vols., INCM;
·
WILLIS, Roy (Editor Geral) (2006): World Mitologia, Duncan Baird Publishers, London
Webgrafia:
[1] “Portugal é o único país que, na sequência
do Concílio de Trento (1545-1563), criou os monumentos que são marcas profundas
da religiosidade popular.” In http://www.snpcultura.org/vol_alminhas.html,
consultado a 31-05-2015, 10:44.
"No
cristianismo primitivo só havia Céu e Inferno, a ideia do Purgatório só surgiu
na Idade Média, quando a Igreja, na sequência do Concílio de Trento de 1563, o
impõe como dogma, numa lógica de resposta católica à Reforma levada a cabo
pelos protestantes. Passava assim a haver um estado intermédio para as almas
das pessoas que faleciam. E em vez do dualismo do Céu, para os bons, e do
Inferno, para os impuros, criou-se um estado intermédio, um local onde durante
algum tempo as almas ficariam a purificar", observa o historiador [António
Matias Coelho], evidenciando, porém, a forma específica como em Portugal se
interpretou as indicações de Trento.” Idem, 10:48.