quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Etnografia (II) Vias Antigas (I)

Via do Cerro da Quinta

Em trabalhos que efectuamos entre os meses de Outubro de 2007 e Maio de 2008, pelas encostas da Serra do Caldeirão coordenamos, num segundo momento, no terreno o nosso colega arqueólogo Dr. Luís Pedro Castro Vilaça Moura. Decorrente dos seus trabalhos de prospecção conjunta (após formação intensiva inicial em Almodôvar e nas frentes de trabalho das obras) alertou-nos para a presença de uma via antiga, observável ainda nos dias de hoje, devido à erosão que a contínua passagem de carroças pelo local produziram sobre o substracto litológico.
Via antiga (observa-se em primeiro plano o desgaste no substracto litológico)

Junto a uma pequena ribeira, próxima ao Cerro da Quinta observamos então da existência de marcas de rodado de veículos de tracção animal. Este local fica submerso estivalmente. A distância entre as marcas de rodado visíveis andava à volta de 1,50metros. Seguiam uma orientação sensivelmente num eixo NE-SW.
Presume-se que tivessem sido produzidas ainda em época contemporânea, como acesso de carroças a uma pequena quinta e sua respectiva horta, não muito longe do afloramento rochoso onde se observava a dita via.
Os nossos sinceros agradecimentos à empresa de arqueologia Perennia Monumenta, na pessoa do Prof. Doutor Francisco Reimão Queiroga, pela possibilidade de execução de tais trabalhos por este imenso Sul.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Etnografia (I) Arqueologia (II) Moinhos (I) Arte Rupestre (II)

"Cerro do Moinho Velho"

Aspecto do elemento estruturado, visto de Norte para Sul



Estrutura de funcionalidade indeterminada pelo que é observável nos nossos dias, mas, muito possivelmente moinho, conforme designação presente na respectiva Carta Militar do local, de planta circular, utilizando o xisto como matéria-prima base de construção.
No eixo EW apresenta um diâmetro de 6,50metros e no eixo NS de 5,80metros. Tem uma altura observável na actualidade entre os 1,50metros e os 1,90metros, desde a base da mesma. Ausência de materiais de qualquer tipo, observáveis macroscopicamente.

Levantamento em manga plástica das gravuras executadas sobre o elemento pétreo

Apresenta um elemento cruciforme gravado sobre uma espécie de globo virado a Este, que passamos a descrever de seguida: 

Levantamento Elemento Cruciforme sobre Globo
Gravura executada por picotagem presente na única pedra de ombreira da entrada, imediatamente acima da soleira que se encontra orientada para o ponto cardeal Este. 
Pormenor da ombreira onde podemos observar o elemento gravado

Representação do culto de São Salvador do Mundo ou sua mimetização posterior[1]? Seja qual tenha sido o motivo era um sinal protector colocado à entrada de uma estrutura, entrada que se encontrava voltada ao nascer do Sol e isso é evidente.




[1] Gostaríamos de apresentar seguidamente uma hipótese visando a execução da gravura em si. Proteção do local (se moinho, serviria para moer grão, com o qual se faria farinha para o pão). Não é raro surgirem elementos cruciformes gravados em vetustas pedras de moinhos, quer de vento como de água, muito pelo contrário.
Apenas um apontamento mais, acerca do culto de São Salvador do Mundo (que poderá aqui estar representado, ou não). Há uma festa que se celebra a 6 de Agosto, do Divino Salvador, São Salvador ou mais simplesmente O Salvador. O episódio da Transfiguração bíblico é o episódio que motiva todas estas representações salvíficas. Com forte conteúdo místico, assinala o ponto culminante da vida pública do Salvador (Jesus=Deus Salva), testemunhado por três dos seus apóstolos (a fazer fé nas escrituras):
“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que, pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, alcançaram, por participação, uma fé tão preciosa como a nossa… Com efeito, não foi com base em hábeis fábulas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Porque ele recebeu, de Deus Pai, a honra e a glória, quando, do seio da glória magnífica, lhe foi dirigida esta voz: Este é o meu filho muito amado, em quem pus todo o meu enlevo. Esta mesma voz que vinha do céu, a ouvimos, quando estávamos, com ele, no monte santo…” (2 Pe 1,1. 16-18).
O episódio ocorreu num alto monte, não longe do lago de Genesaré que depois foi identificado com o monte Tabor, nas proximidades de Naim. Ocorreu cerca de uma semana após o episódio da multiplicação dos pães e dos peixes.
Na representação, Cristo, revestido de Luz, abre os braços, num gesto que lembra a crucifixão, mas, ao mesmo tempo, aparece suspenso no ar, no acto da Ressureição. O seu culto foi muito divulgado pelo Mundo. Deu nome a um país e a duas cidades (capital de El Salvador e São Salvador da Bahia de Todos os Santos, capital e sede da administração colonial do Brasil até 1763).
Geralmente a sua iconografia consiste no seguinte: Cristo transfigurado, glorioso, com o globo ou sobre o globo, vestes brancas, de mãos estendidas em Cruz e em Glória.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Arqueologia (I) Marcos Territoriais (I) Arte Rupestre (I)

Marco da Comenda de S. Clemente (Moita Redonda)[1]

Durante trabalhos que executamos entre Outubro de 2007 e Maio de 2008, pela serra do Caldeirão fomos registando e investigando variadíssimos elementos patrimoniais.
Destes, também um marco territorial mereceu a nossa atenção.
Aspecto do Levantamento do Marco (presumivelmente ainda in situ)

Tratava-se de um marco de delimitação territorial em calcário. Muito possivelmente do Século XVII.
A transcrição é a que segue, uma vez que se assemelha à de um outro marco que Abel Viana e Mário Lyster Franco estudaram e que tinha sido achado em espaços geográficos próximos.

Com pequena espada – presumivelmente da Ordem de S. Tiago ou Espatários – que encima a seguinte inscrição:
:COM:DE / SCLEM
Levantamento Marco Comenda de S. Clemente

Que Abel Viana e Mário Lyster Franco transcreveram como COMENDA DE SÃO CLEMENTE, e dataram como sendo do século XVII, mas de proveniência desconhecida. Este marco possivelmente ainda se encontrará in situ, uma vez que se situa também em zona de fronteira entre S. Barnabé e Loulé (existe um marco contemporâneo em betão a cerca de um metro, de divisão territorial entre Almodôvar/S. Barnabé e Loulé).
Uma leitura atenta de várias fontes levou-nos a concluir o seguinte:
Marco da Colecção Rosa Madeira - Museu Arqueológico Faro
·         a existência de pelo menos um outro marco exactamente idêntico, recolhido por um indivíduo do Ameixial (Sr. Rosa Madeira – presentemente com o n.º 00091 de inventário relativo à colecção deste indivíduo no Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique de Faro), de proveniência desconhecida, mas que muito certamente  viria de uma qualquer localidade ou monte situado nas cercanias e comprovará que existia uma delimitação deliberada e efectiva dos terrenos da dita comenda;
·         apesar dos solos neste local serem relativamente pobres, os locais de implantação e demarcação desta “Comenda de São Clemente” são-nos desconhecidos e poderiam englobar solos aráveis e perfeitamente cobiçáveis situados mais a Sul;[2]
·         o facto de ter representada a Espada da Ordem de Santiago, faz-nos pensar que fosse um terreno da qual a dita fosse possuidora, uma vez que neste espaço geográfico a sua influência foi imensa.

Este marco, para além disso, também é simbólico da divisão geológica dos terrenos da orla terciária e quaternária do Barrocal e do litoral, em contraste com o maciço antigo, os ásperos e ondulados xistos serranos. Muito possivelmente, se forem realizadas prospecções sistemáticas nestes e entre estes locais, outros marcos poderão surgir, quiçá ainda in situ.
Gostariamos de expressar o nosso agradecimento sincero à Dra. Marta Valente (Geóloga e Ilustradora), pelas informações quanto à descrição geológica de diversos locais e pelo tratamento informático em gabinete do levantamento efectuado pela nossa pessoa no local.
Também gostaríamos de aproveitar para agradecer a disponibilidade e amabilidade do Dr. Nuno Beja (Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique, Faro), dos funcionários do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, Bibliotecas de Almodôvar e Beja. Ao Dr. Rui Cortes também fica aqui a nossa palavra de agradecimento.

Bibliografia consultada:

·         ENCARNAÇÃO, Pedro Henrique Ferreira (1993): As visitações da Ordem de Sant’iago às igrejas do concelho de Loulé no ano de 1534, Delegação Regional do Algarve da Secretaria de Estado da Cultura, Faro;
·         GUERREIRO, Rui Manuel Gaspar Cortes (1999): Levantamento da Carta Arqueológica de Almodôvar Relatório de Estágio Profissional, II vols., C.M.A., C.E.F.P.O.;
·         LAMEIRA, Francisco I.C.; SANTOS, Maria Helena Rodrigues dos (1988): Visitação de igrejas algarvias da Ordem de S. Tiago de 1554, A.D.E.I.P.A., Faro;
·         LEAL, Bruno (2004): La Crosse et le Bâton. Visites pastorales et recherche des pécheurs publics dans la diocèse d’Algarve 1630-1750, Centre Culturel Calouste Gulbenkian, Paris;
·         MAGALHÃES, Joaquim Romero (1993): O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, Colecção Histórias de Portugal, n.º3;
·         MARTINS, Luísa Fernanda Guerreiro (2004): Memórias Paroquiais do Concelho de Loulé, In Al-uliã, Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, n.º 10, Loulé, pp. 387-435;
·         SERRA, Manuel Pedro (Coord.) (1996): Visitação da Ordem de Santiago ao Algarve 1517-1518, Suplemento da Revista Al-uliã, n.º 5, Arquivo Histórico Municipal de Loulé, Loulé;
·         VIANA, Abel; FRANCO, Mário Lyster (1945): O espólio arqueológico de José Rosa Madeira, Separata da Revista Brotéria, vol. XLI, Lisboa




[1] A informação acerca deste elemento pétreo e local em si – para além da presente em VIANA, Abel; FRANCO, Mário Lyster (1945): O espólio arqueológico de José Rosa Madeira, Separata da revista Brotéria, vol. XLI, Lisboa e na ficha de sítio n.º 74 em GUERREIRO, Rui Manuel Gaspar Cortes (1999): Levantamento da Carta Arqueológica de Almodôvar Relatório de Estágio Profissional, vol. II, C.M.A. C.E.F.P.O. – foi dada inicialmente por um cidadão de origem francesa [que nós, para protecção da dita pessoa optamos por não mencionar aqui neste post]. Disse-nos que tinha visto há algum tempo atrás uma pedra com um tipo de espada gravada. Poderia ser uma estela de qualquer tipo (como arqueólogo e associativista julgamos ser nosso dever averiguar sempre estes informes, uma vez que o trabalho de arqueólogo não começa em campo e não termina em gabinete, mesmo que alguns deles se revelem posteriormente como uma mera “caça aos gambuzinos”).
[2] “Em 1629 a Câmara de Loulé recebe ordem régia para tombar as propriedades do concelho, o que se torna difícil por pegarem com as de gente poderosa – os Barretos e os Furtados de Mendonça. Demarcação controversa fez-se, em 1624, com o Morgado de Quarteira; com o comendador Lopo Furtado de Mendonça só em 1639.” In MAGALHÃES, Joaquim Romero (1993): O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, Colecção Histórias de Portugal, n.º 3, p.150. Mas, não é somente com membros da aristocracia que o município de Loulé dirime os seus conflitos, com o clero, possuidor de terrenos, as questiúnculas também eram inevitáveis. “A partir de 1705 começam os conflitos da Câmara de Loulé com os padres gracianos, grilos e capuchos por causa dos gados que estes privilegiados metiam nos limites da vila.” Idem, p. 171.

Expressões da Linguagem Popular (IX)

"Queres ver um soberbo? Dá a chave de um palheiro a um pobre!"

Frase utilizada para caracterizar aqueles indivíduos que vindo de um meio pobre, quando se apanham por vezes em posições de destaque, esquecem as suas raízes e tornam-se assim arrogantes para com os outros.

Informante: César Augusto Castro Tereno Coutinho, 37 anos, nascido e criado em Moura.

Brincadeiras e/ou Jogos de Infância (II)

"Lerpa"

"Jogávamos à «Lerpa» com cromos dos jogadores de futebol.
Colocávamos os cromos na mão e tentávamos virar os jogadores com a face para cima até um de nós ficar com eles todos."

Informante: António José Ferreira de Almeida Valente, 72 anos, nascido em Castelões de Cepêda (Paredes) e a viver em Vila Nova de Gaia.

Alcunhas Nortenhas (I)

Alcunhas da escola

"Quando andávamos na escola (que agora já não existe), adstrita ao Colégio de Gaia, tratavamo-nos por alcunhas.
Ia descalço às 6 horas da manhã buscar o pão à Padaria do Sr. Alfredo. Depois ia para a escola.
Devia ter cerca de 13 anos. Todos nos tratavamos por alcunhas.
Havia um Professor Primário que era o Sousa "Maneta" [porque tinha uma deficiência no braço direito].
Das que me lembro eram:
Valente 1º (o meu irmão Mário)
Valente 2º (o meu irmão Rui)
Valente 3º (eu)
O Coca, o Bexiga, o Rato Seco, o Grilo e outros."

Informante: António José Ferreira de Almeida Valente, 72 anos, nascido em Castelões de Cepêda (Paredes) e a viver em Vila Nova de Gaia.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Contos de moiros e moiras (II)

"Telheiro dos Mouros"

Em trabalhos de prospecções arqueológicas efectuadas no âmbito do Acompanhamento Arqueológico de Construção do Parque Eólico da Serra do Mú[1], tidos entre os dias 30 de Outubro de 2007 e 15 de Maio de 2008 detectamos uma série de elementos patrimoniais dignos de registo – desde sítios arqueológicos, etnográficos, até registos orais.
Telheiro dos Mouros
Um destes locais encontrava-se inacessível na altura, pois estava rodeado de espessas camadas de silvas com 2,5 metros de altura. De acordo com alguns testemunhos era um local que já no tempo dos avós dos habitantes mais idosos da Brunheira se encontrava em ruínas. Situava-se na confluência de várias pequenas ribeiras que correm por aquele local no Inverno e que ficam completamente secas durante o Verão.
Está associado a este sítio uma lenda que refere que existia um túnel neste local, que foi tapado devido ao temor que inspirava nos habitantes das proximidades.
Dá também conta esta lenda, da existência de duas princesas mouras[2] que se encontravam encantadas e que para as desencantar seria necessário arar o terreno nesse local. Teriam de ser seguidos, contudo, os seguintes preceitos: a terra teria de ser arada nove vezes (nem menos, nem mais), recorrendo a uma junta de bois negros como a noite[3].
Uma última achega a esta estória deu-a o Sr. António de Jesus Rocha, pessoa dos seus 71 anos na altura, morador no Monte da Cumeada, a de que a dita estaria descrita no Livro de S. Cipriano[4].

Bibliografia consultada:

BRAGA, Teófilo (1999): Contos Tradicionais do Povo Português, II volumes, Colecção Portugal de Perto, nos 14 e 15, 5ª edição, Publicações D. Quixote, Lisboa;
CARDOSO, Carlos Santos (1961): Subsídios para uma Monografia Histórica e Descritiva da Freguesia de Avanca;
COELHO, Adolfo (1985): Contos Populares Portugueses, Colecção Portugal de Perto, n.º 9, Publicações D. Quixote, Lisboa;
MARQUES, Gentil (1999): Lendas de Portugal, V volumes, 3ª edição, Âncora Editora, Lisboa;
PHILIP, Neil (1999): Comentar Mitos e Lendas, Ed. Civilização;
VALENTE, Marco (2008): Lendas de Mouros e Mouras da Serra do Caldeirão breves apontamentos, In Aldraba, Boletim da Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular, n.º 6, Lisboa, pp. 16-18;
VASCONCELLOS, José Leite de (1989): Religiões da Lusitânia, 3 volumes, INCM



[1] Ou Alto do Mú, na Serra do Caldeirão.
[2] Geralmente estas “mouras encantadas” são representadas por figuras belíssimas que ficaram para trás durante o processo de reconquista cristã das terras do al-Andalus. Costumam proteger tesouros que serão dados a quem as libertar do seu encantamento. Neste caso surgiriam num túnel ou nascente (outros são geralmente os locais onde estas guardiãs dos locais de passagem para o interior da terra poderiam surgir, tais como: fontes, pontes, rios, poços, cavernas, antigas edificações e vetustos castelos, ruínas de túmulos e locais pré-históricos como o são as antas, palas, orcas/arcas e castros). Não raras vezes substituem antigas divindades ou ninfas precedentes e são elas mesmas por vezes substituídas por cultos cristãos, como controlo desse mesmo mundo sobrenatural e profano.
[3] Em Avanca (freguesia portuguesa do concelho de Estarreja), contavam-se muitas estórias onde os protagonistas eram “bruxas”, “grades de ouro” e “mouras encantadas”. Destacam-se alguns aspectos seguidamente. Na noite de S. João apareceria uma grade de ouro no fundo do poço dos Chavões (situado nas Chousinhas) sendo necessária uma junta de bois negros como a noite para a tirar do fundo. Também nesta noite de S. João, apareceria uma moira encantada no Pinhal do Engelim e na ponte da Várzea apareciam bruxas à meia-noite. Por último, no lugar do Fojo, a mina da Água Nova, ou ainda Mina dos Nove, teria tido como origem uma nascente que brotou subitamente do sulco do arado ou da charrua, quando um lavrador andava a lavrar o terreno.
[4] É muito natural quando se misturam estórias e lendas dos registos orais, dependendo de orador para orador o “acrescentar um ponto” que muitas das vezes nada tem a ver com a estória em si. Também seria de todo o interesse verificar e estudar os fluxos migratórios na Península Ibérica, desde a Antiguidade até tempos contemporâneos, por forma a aquilatar melhor influências e géneses lendárias (se possível e realizável ainda nos nossos tempos).

sábado, 10 de janeiro de 2015

Alcunhas Alentejanas (XVI)

Chico "Pifão"

A alcunha deste habitante de Moura, entretanto já falecido, foi-lhe colocada pois andava sempre com "pifos" (grandes bebedeiras).
Conta-se que por vezes a sua mulher costumava dizer-lhe, com uma voz muito fininha:
"Chico, não bebas mais, que não vais para o Céu!"
Ao que ele lhe respondia, na sua igualmente fininha voz:
"Não quero ir para o Céu!
Quero ir para o Cartaxo!"

Informante: César Augusto Castro Tereno Coutinho, 37 anos, nascido e criado em Moura

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Adivinhas (II)

Não é chapéu, não é lenço,
Não é fita de enfeitar;
Serve para pôr na cabeça,
Pois é lá o seu lugar.

Mantilha

Mantilha - Manto fino e rendado com que as mulheres cobriam a cabeça.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Adivinhas (I)

Inauguro este post acerca de uma nova temática para este blog, como o são as adivinhas.
Temática que me motiva o interesse desde que escutei pela primeira vez o Enigma da Esfinge.
Este enigma fazia parte do Mito de Édipo. Por ser longo, o dito mito, escrevo aqui somente a parte relativa ao Enigma da Esfinge:
Édipo, numa certa altura chegou a Tebas e encontrou a cidade dividida por dois problemas: o seu rei tinha morrido e um monstro, a Esfinge, estabelecera-se às portas da cidade, propondo um Enigma a quem passasse. Como ninguém sabia responder a Esfinge ia-os matando um por um (daqui a frase, "Decifra-me ou devoro-te"). Jocasta tinha-se oferecido em casamento a quem livrasse a cidade deste monstro.
Édipo foi então confrontar a Esfinge (monstro com corpo de leão, patas de touro, asas de águia e rosto humano).
O Enigma era o seguinte:
"O que é que tem quatro pés de manhã, dois ao meio dia e três à tarde?"
Édipo respondeu que era o Homem, porque gatinhava quando era criança, anda sobre os dois pés quando jovem e adulto, mas quando é mais velho tem de recorrer ao uso de uma bengala para andar.
A Esfinge matou-se e Édipo casou-se com Jocasta, tornando-se assim  o Rei de Tebas (a história não acaba aqui, com um "E viveram felizes para sempre!", mas isto são outras estórias que vos convido assim a ler).
Pegando em registos de adivinhas efectuados por minha avó paterna, pai, mãe e restantes familiares, procurarei assim destacar marcas de um tempo que já passou.
Em alguns casos mantêm-se actuais, noutros têm de ser interpretadas à Luz da altura em que foram inicialmente produzidas.
Aqui seguem então:

Verde foi meu nascimento,
E de luto me vesti;
Para dar a luz ao mundo
Mil tormentos padeci.

Resposta: A Azeitona

Vem do tempo em que o azeite era usado como combustível para, nas candeias, "dar a luz ao mundo".