Maria Luísa Martins Rodrigues, 41
anos, natural de Osnabrück (Alemanha), a viver em Ferreira do Alentejo conhece
várias estórias de fantasmas. Umas por intermédio de outras pessoas e outras
porque as viveu na primeira pessoa.
Relatamos em seguida os episódios
que conhece e/ou viveu, agradecendo a disponibilidade por si demonstrada para os relatar:
“Os espíritos da Igreja da Misericórdia
Eu acho que já houve mais almas
penadas. (…) Na minha adolescência dava para sentir as almas penadas.(…) Um
sítio que eu achava que era mais «carregado», com muito sofrimento, era ali ao
pé da Igreja da Misericórdia.(…) Cheguei a escutar a voz de uma mulher num
sofrimento muito grande. Por isso não gosto de ir lá sozinha.
O fantasma do «Conde» do Museu de Ferreira do Alentejo
Na zona do Museu existem vários
fantasmas. Porque uma parte deste edifício chegou a ser um tribunal e uma
prisão.
Existia um «Conde» (que não era
bem Conde, a mãe era Baronesa). Mas ficou sempre conhecido como o «Fantasma do
Conde». (…)
O «Conde» era muito boémio e ele
tinha quantas mulheres queria e lhe apetecia à vontade.
A Baronesa [sua mãe] queria que ele casasse, mas ele não havia meio de o fazer./
A Baronesa [sua mãe] queria que ele casasse, mas ele não havia meio de o fazer./
Creio que foi com uma inglesa
(que ele foi a Inglaterra ou ela veio cá), que ele se apaixonou. E essa
rapariga, essa dama, tinha olhos claros. E ele encantou-se pelos olhos da
rapariga. Ela foi para o país dela e ele ficou cá e, naturalmente, os seus «affaires»
continuaram. Ele ali em casa tinha uma criada mais ou menos da idade dele. Esta
começou a fazer parte dos «affaires» dele e a sua mãe, a Baronesa descobriu e a
Dama inglesa também descobriu que ele não era homem de uma, nem duas, nem de
três mulheres. Por que ele era uma figura bem parecida, muito atractivo. Ela
nunca mais quis saber dele. Ela na terra dela e ele cá.
Com a criada continuou os seus «affaires».
A Baronesa não queria que esse caso continuasse.
A Baronesa tinha um caniche que
costumava levar ao colo. Um dia a Baronesa estava a descer as escadas que vão
hoje para o primeiro andar do Museu. A dita criada estava lá em cima a fazer os
trabalhos dela e apercebeu-se que a Baronesa ia descer as escadas. Ela sabia
que a Baronesa não gostava nada dela e já a tinha ameaçado de a mandar embora
se ela não terminasse os «affaires» com o seu filho. A Baronesa desceu um, dois
ou três degraus e a dita criada veio por trás e empurrou-a. E a Baronesa
morreu. [O fantasma desta criada continua a surgir no Museu, tendo inclusive tentado
empurrar uma funcionária pelas escadas abaixo há algum tempo atrás].
O Conde acabou por nunca casar,
mas ficou sempre com a dita inglesa na memória, porque ele tinha um fascínio
por mulheres de olhos claros. (…)
Há alguns anos atrás o Museu
estava em obras, também numa das partes que tinha sido a cozinha. E então, eu
não sei bem o que é que eu fui fazer lá acima (se fui à procura de alguém, se
fui buscar qualquer coisa, já não sei). Fui pela zona do quintal, subi as
escadas, entrei e, naquela zona da chaminé do Museu, na cozinha, estava ali uma
mesa à frente (onde eles tinham as coisas todas, papéis e isso). A chaminé,
sabe o que é que foi uma luz? Um clarão laranja e ao mesmo tempo amarelo? (…) Sei
que olhei, quer dizer, eu vi foi um clarão. Por acaso estava tudo muito escuro,
estava com as janelas fechadas, e à frente muito escuro. Ainda mais aquele dito
clarão sobressaia, quer dizer, deu para ver que estava ali a chaminé e o dito
clarão. Depois com aquele clarão, fiquei…. dei assim um passo, assim para o
lado e isso. E de repente desse dito clarão, senti tipo um vento assim tipo a
passar e as portas à frente assim, tipo como se tivesse alguém passado. Eu só
tive tempo de avançar, e ir para as portas e ouvir os passos no soalho. Pesados, uns passos pesados, aquelas botas mesmo, e
ver assim de costas uma figura, mas não deu para definir a figura. Eu continuei
e foi até à outra sala e perdeu-se.
Fiquei assim, mas…. Eu sei que vim
para baixo, quer dizer, não tava à espera de um contacto assim tão próximo. Foi
mesmo e, pronto claro, eles notaram que eu vinha super nervosa. Tive a contar a
estória e isso, fiquei assim. (…)
Ele [o «Conde] um dia, foi comigo
para casa. Não me pergunte porquê. Eu não senti que ele ia comigo. Eu quando
cheguei a minha casa. Entrei em casa, deixei as coisas lá em cima, desci as
escadas, fui para a cozinha e ao passar no corredor, tenho a sala no lado
direito com os cortinados brancos. E as janelas estavam abertas(…)
Olhei para o lado e vi assim, mesmo
de perfil, com um sobretudo antigo, preto, o perfil do «Conde». (…) Mas não foi
só dessa vez, depois começou-me a aparecer mais claro. (…) da outra vez foi na
sala de estar e estava no sofá. Mas aí já apareceu claro e eu fiquei assim,
isto é impossível l!!!
Ele de vez em quando aparece. Mas
a mim nunca me fez mal. Eu acho que no Museu chegaram a ver este fantasma. Um dos
trabalhadores das obras do Museu chegou a ver alguma coisa. Quando ele [o
«Conde«] estava por perto (aparecia) sentia um odor perfumado – como os cheiros
de casa da minha madrinha quando ela fazia perfumes em casa.
Depois já não o visualizava mas
sentia a sua presença.
As almas do Palacete
Uma zona com uma carga muito
negativa, que diziam ver passar almas penadas é em frente ao Palacete, na Rua
Conde de Vilhena. E chegaram-me a dizer que sentiam, que viam almas a passar lá
dentro do edifício. Ali era uma zona muito carregada.
O Espírito que aparecia às crianças
Quando eu era pequena eu e o meu
irmão dormíamos no mesmo quarto em camas separadas. Eu dormia com a cabeça em
frente à porta e o meu irmão dormia com a cabeça para a parte da porta. E
aconteceu numa noite, da janela e isso, com as luzes da rua lá fora, pelo
cortinado, de ver uma figura também preta, com um chapéu de copa alta, barba
(deu para definir que tinha barba) e com um nariz aquilino. E, tipo, debruçado
sobre a cabeceira do meu irmão, a olhar para ele. E, parece-me que ele tinha um
daqueles casacos antigos, assim mais largos nos ombros. Mas a minha mãe também
(depois contei à minha mãe…), ela disse-me depois, que também tinha visto essa
figura, esse mesmo homem, mas na casa da minha falecida avó. A casa que é
praticamente em frente (não é bem em frente é um bocadinho mais acima). Mas também
a viu, viu lá em casa, viu quando era pequena, a mesma figura que não sabe quem
é chegou a visualizar a mesma figura, uma figura antiga.
O filho que morreu duas vezes
Este caso terá acontecido no
século XIX, aqui em Ferreira do Alentejo.
A Capela de Santo António fazia
parte de um solar que já não existe, pertença de uma família espanhola. Esse
casal tinha um filho ainda jovem. Um dia, parecia que ele tinha morrido (mas
estava em coma) e os pais velaram-lhe o corpo. Enterraram-no aqui na capela, mas
pareceu-lhes escutar um gemido. Levantaram a pedra tumular e começaram a
escavar para o desenterrarem. Quando finalmente chegaram ao corpo, este estava
virado de lado, mas chegaram tarde demais, pois agora sim, o seu filho estava
morto.
A dor com este episódio e com a
perda do filho foi tanta que eles venderam a propriedade passado pouco tempo e
foram embora daqui.
Sabe-se lá quantas pessoas nesses
tempos terão morrido de tal forma…"