“Moda da Laranjinha”
Maria Isabel de Gouveia Valente (Foto Lis, Funchal, Junho 1969) |
Ainda cheguei eu mesmo a jogar/dançar esta moda com primos e
amigos no Arco de São Jorge (Madeira), quando era moço novo, ensinada pela
minha mãe.
Os versos que aprendi
eram assim:
“A Moda da Laranjinha
É um jogo assim ao
lado (x2)
Ponho¯o meu joelho em terra
Fica o Mundo admirado
(x2)
Maria sacode a saia
Manel alevanta o
braço (x2)
Maria dá-me um
beijinho
Que eu te darei um
abraço!” (x2)
Alguns anos mais tarde, melhor
dizendo, recentemente, ao observar o Belíssimo Programa “O Povo Que Ainda
Canta”, realizado por Tiago Pereira, verifiquei que esta moda apenas variava em
alguns aspectos da letra, com uma moda cantada por um casal de idosos, os
(agora) célebres “Velhos da Torre”, Alte, Loulé[1].
E cantavam os ditos deste modo:
“E a moda da
Carrasquinha
É uma moda assim ao
lado (x2)
Que se põe joelho em
terra
Todo¯o Mundo fica
pasmado (x2)”
Buscando ainda mais fundo no baú
das memórias, recordei-me de um jogo acerca do qual tinha lido algo há algumas
décadas. Encontrei esta pérola, que passo seguidamente a transcrever na íntegra:
“Carrasquinha
Este jogo é uma dansa de roda que
nos foi descripta por pessoa que a viu dansar a raparigas aldeãs, mas que
poderão dansar muito bem as meninas da cidade.
Como nos outros jogos de roda
dão-se as mãos formando circulo e gira-se cantando; podem-se empregar diversos
cantos em que de espaço a espaço se intercalam os seguintes, caracteristicos do
jogo, e que acompanham os movimentos que lhes são particulares:
110 Este jogo da carrasquinha
É um jogo
assim de lado
Pondo o
joelho em terra
Todo o mundo
fica pasmado.
Mathilde,
sacode a saia;
Mathilde,
levanta o braço;
Mathilde,
dá-me um beijinho;
Mathilde,
dá-me um abraço.
Dizendo o primeiro verso soltam
os jogadores as mãos; dizendo o segundo voltam-se com o braço esquerdo dobrado,
tendo a mão sobre o peito, e o cotovelo apontando para o peito da que fica à
esquerda; dizendo o terceiro verso põem um joelho em terra e dobram-no
simplesmente; dizendo o quarto levantam-se; dizendo o quinto dão uma volta
completa, cada um por si, fazendo gesto de sacudir a saia; dizendo o sexto
levantam o braço direito; dizendo os dous ultimos, duas a duas aproximam as
frontes, tomam-se pela cintura e cada par dá uma volta, terminada a qual dão as
mãos de novo, continuando a dansa de roda.”
In, COELHO, F. Adolfo (1919): Jogos e
Rimas Infantis, Companhia Portugueza Editora, Bibliotheca de Contos para
Creanças, 2ª Edição, Porto
“Malvado” do Tiago Pereira, que me faz ir buscar estas
coisas ao baú das memórias…
Bem hajas companheiro viajante, bem hajas sempre.
[1]
No século XVI, a população local da freguesia do Arco de S. Jorge (Madeira),
era proveniente de Portugal Continental, nomeadamente do Minho e do Algarve.
Ter-se-iam assim entrecruzado estas influências, assimilando todo este processo
de aculturação? Fica a questão para os Filólogos e demais colegas estudiosos
destas problemáticas interessantíssimas, a meu ver.