sábado, 28 de fevereiro de 2015

Brincadeiras e/ou Jogos de Infância (III)

“Moda da Laranjinha”

Maria Isabel de Gouveia Valente (Foto Lis, Funchal, Junho 1969)

Ainda cheguei eu mesmo a jogar/dançar esta moda com primos e amigos no Arco de São Jorge (Madeira), quando era moço novo, ensinada pela minha mãe.

Os versos que aprendi eram assim:

“A Moda da Laranjinha
É um jogo assim ao lado (x2)
Ponho¯o  meu joelho em terra
Fica o Mundo admirado (x2)

Maria sacode a saia
Manel alevanta o braço (x2)
Maria dá-me um beijinho
Que eu te darei um abraço!” (x2)

Alguns anos mais tarde, melhor dizendo, recentemente, ao observar o Belíssimo Programa “O Povo Que Ainda Canta”, realizado por Tiago Pereira, verifiquei que esta moda apenas variava em alguns aspectos da letra, com uma moda cantada por um casal de idosos, os (agora) célebres “Velhos da Torre”, Alte, Loulé[1]. E cantavam os ditos deste modo:

“E a moda da Carrasquinha
É uma moda assim ao lado (x2)
Que se põe joelho em terra
Todo¯o Mundo fica pasmado (x2)”

Buscando ainda mais fundo no baú das memórias, recordei-me de um jogo acerca do qual tinha lido algo há algumas décadas. Encontrei esta pérola, que passo seguidamente a transcrever na íntegra:

Carrasquinha

Este jogo é uma dansa de roda que nos foi descripta por pessoa que a viu dansar a raparigas aldeãs, mas que poderão dansar muito bem as meninas da cidade.
Como nos outros jogos de roda dão-se as mãos formando circulo e gira-se cantando; podem-se empregar diversos cantos em que de espaço a espaço se intercalam os seguintes, caracteristicos do jogo, e que acompanham os movimentos que lhes são particulares:

110        Este jogo da carrasquinha
É um jogo assim de lado
Pondo o joelho em terra
Todo o mundo fica pasmado.

Mathilde, sacode a saia;
Mathilde, levanta o braço;
Mathilde, dá-me um beijinho;
Mathilde, dá-me um abraço.

Dizendo o primeiro verso soltam os jogadores as mãos; dizendo o segundo voltam-se com o braço esquerdo dobrado, tendo a mão sobre o peito, e o cotovelo apontando para o peito da que fica à esquerda; dizendo o terceiro verso põem um joelho em terra e dobram-no simplesmente; dizendo o quarto levantam-se; dizendo o quinto dão uma volta completa, cada um por si, fazendo gesto de sacudir a saia; dizendo o sexto levantam o braço direito; dizendo os dous ultimos, duas a duas aproximam as frontes, tomam-se pela cintura e cada par dá uma volta, terminada a qual dão as mãos de novo, continuando a dansa de roda.”
 In, COELHO, F. Adolfo (1919): Jogos e Rimas Infantis, Companhia Portugueza Editora, Bibliotheca de Contos para Creanças, 2ª Edição, Porto

“Malvado” do Tiago Pereira, que me faz ir buscar estas coisas ao baú das memórias…
Bem hajas companheiro viajante, bem hajas sempre.



[1] No século XVI, a população local da freguesia do Arco de S. Jorge (Madeira), era proveniente de Portugal Continental, nomeadamente do Minho e do Algarve. Ter-se-iam assim entrecruzado estas influências, assimilando todo este processo de aculturação? Fica a questão para os Filólogos e demais colegas estudiosos destas problemáticas interessantíssimas, a meu ver.

2 comentários:

oasis dossonhos disse...

Marco: que bela homenagem à tua mãe consigo ler aqui. Grande abraço e parabéns por este sopro do ser.

Marco Valente disse...

Bem haja amigo Luís.
São partilhas e heranças sentimentais que ficam sempre.
A quem nos Amou, sem imposições nem falsidades.
Amor Materno e Genuíno.