sexta-feira, 27 de maio de 2016

Antas (I) Etnografia (V)

Recolhemos e disponibilizamos a partir de hoje também, uma série de testemunhos de pessoas entre os 50 e os 70/80 anos de idade mas que tomaram parte em escavações arqueológicas no passado.
Para que Honra seja feita a estes trabalhadores que na altura eram meninos, mas nos quais estas experiências mostraram produzir efeitos para o resto das suas vidas, sendo até aos nossos dias recordadas com orgulho em alguns casos, nostalgia noutros, mas sempre com respeito, admiração e gosto em falar de tais assuntos.
Ficam nestes singelos registos a nossa homenagem a esses Homens e Mulheres anónimos (e em muitos casos meninos) que contribuíram com o seu labor ao longo dos tempos em prol da Arqueologia Portuguesa.
Sem mais delongas apresentamos seguidamente o pequeno excerto fílmico e respectiva legenda, para que todos os públicos possam tomar contacto com tais testemunhos.



Testemunho de menino que colaborou nas escavações da Anta do Zambujal (Vidigueira, Selmes) em 1979: 

Entrevistador:                  “Isto é uma coisa muito rápida[1], é só dizer o seu nome, como é que
soube aqui das escavações e… o que é que achou… da experiência?
Sr. Paulo Duarte:             “Eu não tenho a certeza bem da data disso… se
o senhor está dizer que foi em 79… mas eu não tenho.
Portanto, isso foi a seguir ao 25 de Abril e então começaram a…. Fez-se
lá o Centro Cultural… em S. Matias e arranjavam coisas para os jovens,
vá. A gente ajudou também lá nos trabalhos de… de construção do
Centro Cultural. E a depois apareceu lá um rapaz que não era dali
mesmo de S. Matias mas namorava com uma rapariga de lá e era
muito interessado com essas coisas. E depois o pessoal vá, quando
começou também ninguém ligava porque não tinha conhecimento do
que se calhar do… do que era… as coisas. E depois aquilo havia muito…
vá… rapazes novos né, outros mais velhos, já com, com mais idade e
começamosse a interessar por aquilo. Aquilo começou a dar
entusiasmo ao começar a fazer as escavações e a encontrar alguma
coisa. E depois atínhamos um grupo grande, pronto, vínhamos todos
os Sábados… era, acho que era ao Sábado. Vínhamos sempre para aqui  [Anta do Zambujal] escavar até que se encontrou ah… vá… tá lá, tá lá ainda uns sacos cheios de coisas ainda há lá muito…
Entrevistador:                  “Que idade é que tinha na altura? 13 anos?”
Sr. Paulo Duarte:             “Atão… eu nasci em 66, se foi em 79, tinha 13 anos p’raí… eu já não me
lembro bem, mas deve ser, nessa altura.”
Entrevistador:                  “Muitíssimo Obrigado pelo testemunho.”
Sr. Paulo Duarte:             “De nada.”

Entrevista efectuada a 27/05/2016, algures na freguesia de S. Matias, próximo ao Monte do Azinhal.
Ficheiro editado com o programa MovieMaker, em formato suportado pelo YouTube.
Entrevistado: Sr. Paulo Jorge Inácio Duarte, 50 anos.



[1] Contexto de formação em frente de obra, com pressão (no bom sentido) do “chefe de equipa”, para agilizar a entrevista em si e o trabalhador em questão retomar as suas funções o quanto antes. 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Poemas soltos (VIII)

À Chita (Acinonyx jubatus), animal indomável

Do Mar Mediterrâneo aos mares Cáspio e Aral
O seu reino já foi maior afinal

Quando era criança, queria correr como a Chita
As lágrimas negras e a face esbelta
As manchas no dorso adornando o seu corpo
Sonhara eu voar, correr sem parar

Nos documentários da BBC, ela era a rainha da Savana
Nomes de terras longínquas, que eu jamais ouvira até então
Afeganistão, Irão e até Uzbequistão…
Sons distantes que a terra abraça e emana

Da casa de um pobre miúdo de Gaia
Vogava eu assim no deserto onde o Sol raia
A sua cauda o meu leme, para estabilizar nas curvas
Horizonte longínquo, de linhas quentes bem turvas

Criatura mui nobre, das suas presas temível
Em estado de caça, usava o seu corpo flexível

E então aprendi, que no Mundo afinal
Ainda existia assim tão nobre animal
Mais uma espécie, milagre da vida

Jóia do deserto, noiva prometida.

Marco Valente
(escrito a 26/05/2016, sonhado "A Long Time Ago in a Galaxy Far Away", após ver um Programa da BBC, salvo erro com Sir David Attenborough).

sábado, 21 de maio de 2016

Poemas soltos (VII)

A certeza do incerto

Na casa dos mil espelhos
Não há portas, nem janelas
Quatro fachadas erguidas
De rebocos já caídos

Nos jardins da casa dos mil espelhos
Houve rosas, houve flores
Risos, lágrimas, amores
Formosos Cisnes vagueando nos lagos

Uma mansidão sôfrega e débil
Atordoa a mente que já não sente
Os vidros partidos da casa dos mil espelhos

Boiando embalado pela corrente
Sonho com a casa dos mil espelhos
A casa que nunca foi da gente
E a incerteza é tudo certamente…

Marco Valente 21/05/2016

Adivinhas (IV)

Eu no campo me criei,
metida entre verdes laços,
o que mais chora por mim
é quem me faz em pedaços.

A cebola