Velhas Lendas do Castro dos Ratinhos (Moura)
(apontamentos recentes sobre recolhas inéditas
efectuadas em 1960)
Marco
Valente
Wanda Rodrigues
Lutas de liberais
Informação
presente no artigo do Dr. Fragoso de
Lima no Jornal de Moura de 22 de Julho de 1944: “Na época das guerrilhas
houve combates nos dois castelos. No de Pardieiros estavam os liberais, no de
ratinhos os miguelistas. Os inimigos defrontavam-se com artilharia…” «Alguns
campónios exageram e contam que»… “nos Ratinhos até esteve el-rei D. Miguel e
seu irmão D. Pedro em Pardieiros…” «Na realidade parece que do Castro dos
Ratinhos foram lançados tiros sobre o castro dos Pardieiros, pois têm aparecido
neste último local várias balas de ferro de peça de artilharia, especialmente
nos lados que dão para a fortaleza da Margem Esquerda. Recentemente foi uma
dessas balas encontrada pelo abastado lavrador Sr. Joaquim Pires Caeiro.
Sabemos ainda por este artigo que no Castro dos Ratinhos foi encontrada uma
moeda do tempo de D. Miguel, um pataco cunhado em 1831.” (IBIDEM:1960:93-94).
Esta Lenda em si,
recordou-me as histórias que o meu pai, António José Valente, me costumava
contar quando era mais novo, acerca do Cerco do Porto.
Uma delas era
muito similar à que teria tido por cenário o Castro dos Ratinhos e o Castro de
Pardieiros.
Aparentemente D.
Miguel teria estado do lado de Gaia, segundo uma versão, no Alto de S. Gens,
numa outra, a passar em revista as suas tropas e liderando um dos múltiplos
ataques por parte dos realistas contra os sitiados liberais seguidores do seu
irmão D. Pedro I. Reza a Lenda que um atirador especial tinha D. Miguel debaixo
de mira e que perguntara a D. Pedro I se tinha autorização para fazer o
disparo. D. Pedro I teria então replicado: “Não dispares, que esse homem é meu
irmão!”
Esta pequena
história, propagada pelos vencedores constitui uma prova mais de magnanimidade
e justiça face à causa liberal. D. Pedro I, paladino dos liberais, mostrava um
exemplo mais da nobreza do seu carácter, pelo menos no que diz respeito ao campo
das Lendas e de construção de Mitos.
Dizia-me o meu pai
que tinha escutado já esta lenda a seu pai, Carmelino Luís Valente, falecido agora
há já mais de cinco décadas[1].
[1] Teriam estas versões lendárias acompanhado as tropas liberais, que
quando vindas do Porto por mar, iniciaram uma segunda frente de combate a
partir do Algarve, com direcção a Lisboa, comandados pelo Duque da Terceira? Ou
chegaram a Moura por outras vias? Talvez nunca o venhamos a saber. O que é um
facto é que o episódio contado em Moura e recolhido em 1960 por Wanda Rodrigues
se assemelha ao que meu pai me contava na década de 80 do século XX, mas que já
vinha de gerações anteriores à sua. Um facto mais é que D. Pedro IV e D. Miguel
I nunca se confrontaram pessoalmente no Alentejo, mas ambos estiveram
presentes, e por mais do que uma vez, a comandar tropas nos vários episódios do
Cerco do Porto.
Pequeno excerto do artigo publicado no n.º 23 da Aldraba, Junho de 2018, Associação do Espaço e Património Popular
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apontamentos, In Aldraba,
Boletim da Aldraba – Associação do Espaço e Património Popular, n.º 6, Lisboa,
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