A vida tem destes encontros. Descobri por intermédio de uma grande amiga que fiz agora recentemente um poeta cuja obra todos iremos conhecer em 18 publicações póstumas e próximas.
Um Homem a sério, que gostaria imenso de ter conhecido e privado pessoalmente.
Há pessoas assim. Que na sua companhia nos fazem esquecer as invejas, falsidades, parasitismos e pequenez intelectual dos muitos que nos rodeiam.
Só o conhecerei agora um pouco mais através da sua obra, mas do pouco que já pude observar, sinto que me esperam momentos de leitura apaixonantes, mui certamente.
Aqui fica a sua biografia, presente na obra: "O Jardim de Epicuro Cânticos Líricos".
António Baptista Borges
«António Baptista Borges nasceu em Évora, no dia 25 de Agosto de 1922.
O pai era oficial do exército e a mãe doméstica. O ambiente familiar - teve oito irmãos - era propício à afirmação da cultura, das raízes, da identidade, razão pela qual António afirmava enfática e frequentemente "O Alentejo é um Continente".
A mãe viu-o sempre carinhosamente como o primogénito, cedo se apercebendo do seu talento.
O acidente que lhe incapacitou um braço [ocorrido aos 7 anos de idade, em casa dos avós, em Pias] acentuou a sua cumplicidade relativamente às originalidades do seu carácter, estatuto que lhe valeu para sempre a alcunha de "Sr. Marquês".
Porém, a morte da mãe, quando António era jovem, desencadeou a desintegração da família.
Pretendendo seguir a carreira diplomática, licenciou-se em Económicas e Financeiras (Secção Diplomática e Consular), ambição travada pelo defeito físico num braço.
Foi o 1º classificado no Curso Superior de Cultura do Instituto Espanhol de Lisboa e diplomou-se em Estudos Americanos pela Universidade Hispano-Americana de Santa Maria de La Rábida (Huelva).
Por apreciar a cultura francesa, frequentou o Curso de Língua e Civilização Francesas, da Universidade de Aix-Marseille.
Identificava-se como "Cavaleiro Ibérico", valorizava o amor andaluz e Garcia Lorca.
No seu insaciável desejo de conhecimento - dominava as línguas italiana, inglesa, espanhola e francesa -, visitou o norte da Europa, a Escandinávia em especial, atraído pelo seu "blond" feminino.
A Itália e a Grécia não as conheceu como desejava, embora as tenha vivido febrilmente como a sua obra evidencia.
Mas foi a África, onde leccionou nas décadas de 60 e 70, que o marcou indelevelmente como atestam as suas memórias.
Foi professor do Ensino Secundário e Médio em Setúbal, Beira e Lourenço Marques (actual Maputo).
Faleceu, em Setúbal, no dia 1 de Dezembro de 2012.»
Um poema sempre actual:
"Proclamação
É preciso subir aos andaimes
E proclamar
O vazio da civilização;
Trepar pelos postos telefónicos
E cortar as comunicações;
Subir aos ministérios
E prender os políticos!
É preciso cortar as guitas
Dos balões de oxigénio
E deixar que as pessoas
Que são, de facto, boas
E incapazes de fazer mal,
Possam crescer
E viver
Sem tutela mental!
É preciso derrubar as mesas
Das reuniões
Onde se forja a infelicidade
E limpar as praias
Da ignomínia dos moralistas!
É preciso calafetar a fé,
Asfaltar a esperança
E dar livre trânsito ao amor!
É preciso que todos venham para a rua,
Assomem ao postigo e à janela,
Com um sorriso nos lábios
E uma flor na lapela!
E é preciso, é urgente
Caminhar depressa.
O mundo está cheio de gente
Que quer viver contente:
QUE NINGUÉM O IMPEÇA!"
In, Borges, António Baptista (2013): O Jardim de Epicuro Cânticos Líricos, Casa dos Professores de Setúbal - Centro de Estudos Bocageanos.