quinta-feira, 1 de maio de 2014

Para que a Memória perdure Relatos de perseguições, tortura e morte ocorridas durante a Ditadura Fascista (I)

Recordo-me de escutar a seguinte frase há alguns anos atrás enquanto deambulava nos meus trabalhos de campo e recolhas por terras do centro de Portugal:
“Para que o Mal prevaleça, apenas é necessário que os Homens Bons nada façam.”
Algum tempo depois vim a saber que o seu autor, Edmund Burke, a teria utilizado por forma a criticar os excessos cometidos durante o período de terror a mando de Robespierre (também ele vítima dos seus próprios actos). Burke acreditava assim que a revolução francesa tinha sido um marco de ignorância e brutalidade, nomeadamente através da execução brutal de "homens bons" como Lavoisier.
Porque também em Portugal muitos foram os Homens Bons que tombaram lutando contra um regime ditatorial de inspiração fascista, estes posts serão assim dedicados a todos aqueles que usualmente a História tradicional não confere voz e às suas estórias de luta, perseguições, abusos, tortura e morte sofridos às mãos de um regime ditatorial implacável e castrador quer de corpos como de mentes, buscando assim confinar os portugueses à dócil e acéfala mentalidade seguidista e congénere tacanhez de espírito.
Mas, sem mais delongas, aqui fica o primeiro registo.

Testemunho do Sr. Francisco do Carmo Martins, ou “Chico Borreguinho”, 83 anos, nascido e criado em Pias (Serpa):

O pessoal do Algarve não tinha trabalho e vinham para o Alentejo fazer as ceifas e nós ficávamos sem trabalho. Juntaram-se algumas dezenas de pessoas (mais de sessenta) e fomos à Herdade dos Canivetes pedir trabalho e protestar contra essa situação.
Veio a Guarda e a Pide e prendeu-nos a todos cerca de quatro meses e meio em Caxias, interrogando-nos, sempre tentando saber quem eram os chefes responsáveis pela organização de tal protesto. Ocorreram tais factos cerca de 3 ou 4 anos antes do 25 de Abril de 1974.

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