O “Avujão” do Pedrógão
Há algumas dezenas de anos atrás
dizia-se que no Pedrógão existia um “Avujão[1]”.
Ninguém sabia quem era e muitos tinham receio de o saber, pois pensavam
tratar-se de uma qualquer aparição fantasmagórica.
O Tio Ameixinha gostava muito da
pinga e andava sempre ébrio. Nessas alturas dizia aos outros na taberna, que
ainda iria descobrir ele mesmo quem seria esse avujão, mas ninguém ligava muito ao que ele dizia.
Um dia, estando ele a beber – ou
a fingir que bebia enquanto vazava o conteúdo do copo para o chão sem que os
outros disso se apercebessem – saiu pouco depois da taberna, cambaleando
teatralmente. Como se sabia mais ou menos qual a rota que o dito avujão costumava seguir, o Tio Ameixinha
foi nessa direcção. Quando o avujão ia
a passar por um determinado local o Tio Ameixinha foi directo a ele (segundo as
suas palavras) e confrontou-o. Ninguém soube jamais o teor da conversa que
encetou. E o que é certo também é que nunca se soube quem seria o dito avujão. O Tio Ameixinha nunca o disse,
nem no leito de morte, quando com ele insistiam para o saber.
Testemunho de Madalena Afonso
Borralho, 46 anos, nascida e criada em Pias (Serpa).
[1]
“Avujão” – Indivíduo (geralmente do
sexo masculino) que, disfarçado de fantasma, com um lavatório em ferro à
cabeça, lençol a cobri-lo e por vezes correntes atadas aos pés, utilizava assim
este subterfúgio para ir ter com a amante ao coberto da escuridão.
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