De igual modo temos verificado
que – tal como era expectável – apenas os que possuem alcunhas aceitáveis,
digamos, tais como “Borreguinho” ou “Penca”, mais facilmente «dão a cara» à
fotografia[1],
do que aqueles que possuem alcunhas jocosas ou consideradas pelos mesmos como
aviltantes, tais como “Cagalhão” ou “Merda Crua”.
Também, por sabermos que “(…)o
levantamento exaustivo das alcunhas do Alentejo ainda não está feito; para isso
seria necessário um investimento significativo em recursos humanos e
financeiros e em tempo.” (IDEM: 5) pretendemos assim prestar este modesto
contributo também face a tais propósitos.
Sem mais considerandos, passamos
à estampa um poema de Mestre Romão Moita Mariano (Poeta e Ferreiro de Pias –
Serpa), dedicado às ditas Alcunhas Alentejanas. Registo de uma brincadeira
feita para registar quando um indivíduo de Pias “O Choco”, ao efectuar
melhorias à sua habitação, ter chamado para ajudar na dita obra,
inadvertidamente, os “Cagas” (sem ofensa), seus conterrâneos.
ALCUNHAS DA NOSSA TERRA
O «Chôco» junta uns
patacos
P’ra melhorar a
casinha
Queria por nos
quartos tacos
E tijoleira nos
tectos
Se já não fosse p’ra
ele
Era para os filhos ou
netos
Para ver realizado
Aquele sonho tão belo
Um pedreiro foi
contratado
Um vizinho ali ao
lado
O Mestre «Caga
Amarelo»
Quando a obra começou
Precisavam de um
servente
O «Chôco» não hesitou
Pensou logo num
parente
E logo sem mais
desvendos
Foi ao Outeiro
desmandado
E trouxe o «Caga
Remendos»
Que estava
desempregado.
Na construção da
placa
A coisa ficou bicuda
A equipa era fraca
Precisavam de outra
ajuda
O «Chôco» ouviu o
recado
E abalou sem mais
palavras
E foi buscar o
cunhado
Que já estava
reformado
O Tio Joaquim «Caga
Favas»
Quando a placa ia a
meio
O pocinho foi-se
abaixo,
E o «Chôco» cheio de mágoa
Vendo o poço na
sequeira
Mandou o Chico
Cubaixo
À do Senhor Zé
Madeira
P’ra mandar um bidom
d’agua
Pediu pressa muita
pressa
E o pedido foi aceite
Pois dai por um
bocado
Dando volta na
travessa
Com o bidom atisbado
Vinha o Luiz «Caga
Azeite»
(tudo isto é real:
Aconteceu quando o Chôco fez a reparação da sua casa em 1985).
Bibliografia consultada:
RAMOS, Francisco
Martins; SILVA, Carlos Alberto da
(2003): Tratado das Alcunhas Alentejanas, Edições Colibri
[1]
Este registo fotográfico, voltamos a afirmar, com a autorização dos visados
pelas alcunhas respectivas, é assim uma forma de manifestar a aceitação das
ditas como uma brincadeira, sem maldade e com à vontade. Também cumpre o
propósito de demonstrar quantitativamente quais as alcunhas mais facilmente
aceites pelos próprios.
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