sábado, 29 de agosto de 2015

Fenómenos Luminosos (II)

Esferas Luminosas sobre o Algarve

"De algum tempo a esta parte temos verificado de Norte a Sul do país que diversos tipos de fenómenos luminosos fazem parte do imaginário popular e folclore local.
Alguns já registamos e passamos ao prelo. Outros serão aqui seguidamente transcritos mais em bruto, seguindo-se, quiçá, interpretações mais reflectidas futuramente acerca de um maior número de casos/relatos."

O informante optou pelo anonimato, face à hipocrisia de uma sociedade que ostraciza quem testemunha este tipo de fenómenos, tal como quando na Idade Média se ridicularizava quem afirmava que a Terra era redonda e não plana.
Noutros tempos estes fenómenos foram descritos à luz e discernimento de quem os observou e tiveram várias explicações (fenómenos naturais, manifestações de anjos, figurações de deuses e seus emissários). Urge efectuar esta recolha contemporânea, por forma a aquilatar como se processam estes fenómenos, aos mais variados níveis, nomeadamente o da imagética/fenómenos em si e das interpretações que os que observaram tais fenómenos fazem acerca dos mesmos, entre outros e variados aspectos.
Deixamos aqui seguidamente o seu testemunho:

“Era dia 14 de Abril de 2001, final das férias da Páscoa. Algures numa terra algarvia, num aldeamento turístico a cerca de 300 metros da praia. Entre este aldeamento e a praia fica uma zona descampada, seguindo o bosque que acaba na linha de dunas da praia.
Existe um acesso em terra batida, que percorre desde o aldeamento até à praia, atravessando estes contextos de zona descampada, bosque e por fim praia. À direita existe uma elevação.
Estava nessa noite com três amigos, todos eles de férias e, este era o último dia deles lá.
À meia-noite eles iam voltar para casa para fazer as malas pois seguiam a Norte no dia seguinte.
Estávamos no sítio habitual, uma «eira» que estava no meio do parque relvado, com a vista para o Sul, para o bosque.
Croqui efectuado pela testemunha, acerca do espaço físico dos avistamentos
Tínhamos connosco um cão pequeno, que simpatizou connosco. Este cão pertencia ao senhor encarregado do aldeamento, que tinha vários cães, estes abandonados por veraneantes desnaturados…
Era por volta da meia-noite, quando de repente o pequeno cão começa a mostrar intranquilidade. De repente, surge uma luz amarela, com reflexos de vermelho a circundar o monte (à direita), numa direcção da direita para a esquerda, numa velocidade lenta. Achamos estranho. De repente o pequeno cão começa a uivar, e eis que começam todos os cães a uivar. Nisto, nós, intrigados com a luz e os cães, reparamos que a luz deixou de contornar o monte, estando a flutuar no céu, por cima da copa das árvores, cerca de 50 metros.
A luz pára no ar, suspensa e, de repente, aparece outra, ligeiramente afastada, com a mesma cor e iluminação, não emitia qualquer som ou ruído.
Nisto elas começam a mover-se no céu, fazendo figuras geométricas aleatórias (mesmo à nossa frente, deveriam estar a cerca de 700 metros, talvez). De repente, uma delas desaparece, apaga-se, esfuma-se… e a outra desce em direcção à terra, desaparecendo no nosso campo de visão, por detrás do bosque. Nisto existe um clarão luminoso no sítio onde ela desceu. Confesso que senti-me ameaçado e em perigo, eu e os meus amigos, os cães não paravam de uivar.
Eis que de repente surge entre as árvores, lá ao fundo nesse caminho de terra batida, uma luz, mas esta era diferente, era branca, muito branca e era como um núcleo de luz, não iluminava nada à volta, era uma bola perfeita.
Ela estava a vir na nossa direcção… Nós apanhamos pedras e paus para nos defendermos. Os cães uivavam incessantemente.
A bola de luz não fazia barulho nenhum, andava em linha recta, não apresentava turbulência no movimento, flutuava na perfeição e, não iluminava nada à volta, nada que tenha visto antes…
Ela vinha na nossa direcção, estava cada vez mais próxima e dava para perceber isso, até que chegou à imediação da estrada alcatroada do aldeamento, a qual tinha um poste de luz e como se fosse magia desapareceu… Puffh…
Senti medo, mas senti curiosidade e vontade de me meter mato a dentro a correr atrás daquilo.
Nós neste momento estávamos junto do sítio onde esta Bola de luz desapareceu, até um amigo foi chamar o pai dele, por fim aconteceu um clarão no mesmo sítio do primeiro e igual. O pai do meu amigo testemunhou o último clarão…
Aqui os cães deixaram de uivar e acabou o evento. A Bola de luz Branca esteve a cerca de 30 metros de nós.
Foi assustador e intimidante…
Eu não acredito em tecnologia terrestre capaz de fazer tais coisas.
E não era natural, não eram bolas de plasma, nem gazes. Era algo que não era daqui.

O evento terá durado na sua totalidade cerca de 10 a 15 minutos, aproximadamente."

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Arte Rupestre (V) Capelas (I) Arqueologia (III) Reptilianos (I)

"Lenda da Passadinha"
Informante: José Sardinha

Um cavaleiro que um dia ia a passar por um ribeiro foi atacado por uma grande cobra[1].
Pediu ajuda a Nossa Senhora e ela apareceu-lhe com o menino ao colo e a cobra com medo fugiu[2].
O cavaleiro em agradecimento quis construir uma capela[3].
Quando começaram a construir num local baixo, no dia seguinte encontrava-se tudo derrubado no chão[4].
Então tiveram de construir a dita capela num sítio mais elevado.
Nesse ribeiro há um afloramento rochoso, com uma espécie de sela (que teria sido do cavaleiro, local onde os miúdos antigamente iam brincar), com a gravura de um pé (eventual podomorfo, que seria pela tradição do Menino Jesus) e de uma ferradura (que seria igualmente pela tradição, do cavalo que o cavaleiro montava)[5].
Chegaram a ocorrer disputas, há algumas décadas atrás, pela posse “espiritual” desta Capela, entre as gentes de Selmes (Vidigueira) e as gentes de Baleizão (Beja).




[1] Os cultos ofiolátricos são, em épocas celtas por exemplo, símbolos de uma ligação existente entre todos os seres vivos. Júlio César descreve, para os celtas da Gália, que o tema central da sua religião era a metempsicose (a possibilidade da alma humana reencarnar em outros seres animais e vegetais). Em Dorset, no Reino Unido, arqueólogos descobriram enterramentos de numerosos animais híbridos. Milles Russel (co-director da escavação), teria declarado a imprensa que as combinações de diferentes partes de animais teriam sido localizados em fossos com 2 a 3 metros de profundidade utilizados para guardar mantimentos e outros tipos de mantimentos debaixo das entradas das casas. Uma disposição particularmente estranha de ossos de animais, também envolveu um esqueleto humano. Uma jovem mulher parece ter sido vítima de sacrifício (com a indicação de que a sua garganta provavelmente teria sido cortada) e foi então enterrada numa “cama” especialmente executada com ossos de ovelhas, cães e cavalos. Significativamente, essas ossadas de animais tinham sido deliberadamente escolhidas para espelhar os ossos da mulher morta. Também poderia indicar que os antigos britânicos possuíam crenças ou mitos relacionados com animais híbridos, da mesma forma que os gregos. A maioria das civilizações ancestrais têm animais híbridos nas suas respectivas mitologias. E, ainda que os celtas não tenham deixado nenhuma evidência escrita acerca disso, as experiências híbridas com ossos de cavalos e vacas poderiam sugerir a existência de uma divindade celta com essas características.
Já o antropólogo Julio Cola Alberich (Cultos primitivos de Marruecos, Madrid, Instituto de Estudios Africanos del CSIC, 1954, p. 50) afirmava o seguinte, relativamente aos cultos ofiolátricos no Norte de África: “Para establecer su génesis, se hace preciso reconocer el estado de espiritu del primitivo ante una especie animal tan extraña en sus particularidades como el ofídio. A su vista, experimenta una concreta sensación de pavor y repulsión, una sensacion fuera de lo normal, que le conduce a la admiración.” Este ombre primitivo relaciona la serpiente com una serie de hechos a los que le conduce su observación directa de la Naturaleza: «a consecuencia de ello, há llegado a adquirir un conocimiento, primeramente muy oscuro, de algunos fenomenos relacionados com la vida del reptil – como su muda periódica, que le puede sugerir la idea de renovacion periódica y perpetua de la vida(…) La analogia, que para Preuss es casi la única fuente de la magia, halla aqui una evidente intervención. En ella puede buscarse las raíces de la primitiva ofiolatria».
[2] A hostilidade entre a Mulher e a Serpente já surge em textos bíblicos, nomeadamente do Antigo Testamento. Em Génesis 3,15: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás no calcanhar.” Trata-se de um diálogo entre Deus e a serpente, depois do pecado de Adão e Eva no Paraíso. É a mulher que persegue e esmaga a cabeça da serpente. Exegeticamente, esse versículo parte da constatação que existe uma profunda hostilidade entre a humanidade e a serpente. É fundamental, notar a presença de uma vitória final da Humanidade. No texto hebraico essa vitória virá através da linhagem da mulher. Dessa forma é estimulada a interpretação messiânica já presente na tradição judaica antiga e, depois, nos padres da Igreja. E, juntamente com o Messias, também a sua mãe é assim implicada, nascendo a interpretação mariânica: Maria que esmaga a cabeça da serpente.
[3] O facto de alguém cristianizado querer construir uma capela/igreja/mosteiro após uma vitória é um tema muito comum na imagética cristã (p.ex. Mosteiro da Batalha).
[4] Este tema também é muito comum, só para citar dois da imensidão de exemplos existentes, isto só relativamente ao caso português: Em Mirandela, numa localidade apelidada de Romeu, na Horta de Nossa Senhora, no Lugar de Vale de Couço, dizia-se que tinha sido ali que teria aparecido a imagem de Nossa Senhora de Jerusalém de Romeu, onde lhe erigiram uma Capela. Mas Ela, de noite, fugiu para o local da aparição, até que, por último, tantas vezes a levaram que lá se resignou a ficar na Capela [esta situação não costuma ser usual, geralmente Nossa Senhora, ou Santa/Santo costumam fazer prevalecer a sua vontade]. Igualmente em Santa Bárbara, Vale de Prados de Ledra, apareceu a Senhora, que o povo levou para as Múrias. Mas de noite fugia para as ruínas, até que, tantas vezes a levaram que, por último, lá ficou. [Através destas alegorias as populações encontravam muitas das vezes explicações, no seu entendimento, para a existência de ruínas antigas próximas das suas então actuais localidades].
[5] A arte rupestre, geralmente surgida em locais de culto, calendários agrícolas, etc encontra assim este tipo de explicação na mente das pessoas das localidades mais próximas, pois é a explicação mais plausível aos seus olhos e experiência de vida, também ao nível da religiosidade, que professem na altura.

domingo, 2 de agosto de 2015

Etnografia (IV) Moinhos (II) Arte Rupestre (IV)

Armazém de Cereais / Casa das Bestas do Pé de Boi

No fundo da Ribeira da Azilheira, em local que nos foi de todo impossível prospectar, de acordo com palavras dos nossos informantes, existiriam ainda nos nossos dias [2008] visíveis, as ruínas de um moinho de água “muito antigo”. Tinha a designação de “Moinho da Caganita” e nas proximidades ainda estaria localizada uma mó do dito.
De acordo com as palavras de alguns pastores, moradores nas redondezas, teria aparecido nesta Ribeira da Azilheira, há alguns anos atrás, uma pedra “com letras romanas ou gregas” e alguns desenhos. Terá porventura sido levada por alguém, ou a vegetação a terá coberto e protegido de olhares alheios a estas coisas do Património pelo Património em si.
Numa das edificações que podemos observar no Pé de Boi, que se encontra nos nossos dias em ruínas e que teria sido armazém de cereais numa das dependências e casa das bestas de carga[1] numa outra, verificamos que o lintel de uma das entradas tinha umas letras e uma data gravadas, enquadradas no interior de uma espécie de dupla taça.
Inscrição Armazém do Pé de Boi
Executada em 1932 por António Francisco Guerreiro (A.G.), pessoa que sempre trabalhou no campo, analfabeto, mas com dotes artísticos.
Aqui fica a nossa pequena homenagem, registando para a posteridade a marca que deixou inscrita na pedra.

Lintel com Inscrição  Armazém do Pé de Boi



[1] Bestas estas que traziam os sacos de cereais já moídos dos moinhos em redor, nomeadamente do Moinho da Caganita.